Porque a faculdade não forma empreendedores - Parte 3

Na parte 2 dessa série de textos, discutimos sobre o perigo da crença no curso universitário como a única forma de formação e certificação do conhecimento e ainda restam duas perguntas a serem respondidas. Felizmente, ambas possuem a mesma resposta e podem ser encaradas da mesma forma.

Mudança de paradigma, criação de mindset, ou até mesmo re-estruturação de valores. O termo é a gosto do freguês, mas a solução é a mesma: repensar as nossas crenças sobre a educação e; repensar o impacto da educação no "sucesso geral" do empreendedor.

Depois das cerimônias de formatura e da entrega do diploma, muitos colegas com os quais conversei sentem um certo alívio, que sempre vem acompanhado de uma percepção assustadora. Ainda no ensino médio ou no cursinho sempre ouvi aqueles que faziam planos para quando recebermos os louros da graduação, e alguns deles diziam: "Não vejo a hora de parar de estudar", ou então, "Quando me formar não quero nem tocar em um livro". Acredito que há muito paramos de ser o país rural dos coronéis, onde o pensamento predominante era de que só havia valor no trabalho duro e braçal da vida no campo. É inegável o progresso econômico que atingimos mesmo após a industrialização tardia do Brasil graças a esforços para melhorar o acesso à educação (ainda que deficitária).

A percepção a que chegaram foi que nunca paramos de aprender e nunca deveríamos parar de estudar. E com relação à leitura, nem é preciso falar. A educação deve ser encarada, acima de tudo, como um processo de formação contínua e individual. Neste processo de melhoramento contínuo, devemos ser os protagonistas dessa jornada e responsáveis pela repercussão dos conhecimentos que adquirimos e que transmitimos aos demais. O que se aprendeu dentro da sala de aula é apenas uma fração do saber que é aprimorado diariamente com os avanços científicos, sociais e econômicos.

A educação deve ser encarada, acima de tudo, como um processo de formação contínua e individual.

Muitas vezes nas instituições de ensino superior encontramos histórias de alunos, seja de gradução ou pós-graduação, realizando trabalhos cujos temas e linhas de pesquisa não foram determinados por eles, mas pelos orientadores ou pela instituição, e que podem ter alta repercussão científica, mas com pouco ou nenhum potencial econômico. Outras vezes, pesquisas com alto potencial econômico são suprimidas pelas mesmas forças, pelos mais diversos motivos, ideológicos ou não. Somam-se ainda formalismos como trabalhos, avaliações e outras burocracias. No final, o resultado é o mesmo: um ambiente hostil ao desenvolvimento individual e ao empreendedorismo.

A jornada individual do conhecimento é caracterizada por algumas liberdades que podem ser associadas às de um auto-didata. A saber:

Estas liberdades são fundamentais para o empreendedor e para ele deve ser possível ter controle total sobre a maneira com que ele adquire o próprio conhecimento, uma vez que ele também está limitado pelas mesmas variáveis, pelos seus interesses pessoais e pelas decisões do mercado. Quando os interesses acadêmicos da instituição e os interesses pessoais do empreendedor estão alinhados, pode sim haver sinergia, mas quando não há união é que percebemos o quanto estas liberdades se fazem necessárias. O caminho a ser tomado é o do autodidatismo, no sentido de que somente o auto-didata tem controle total sobre a sua trajetória. A busca pelo conhecimento se torna mais gratificante, cheia de sentido e propósito.

Um bom exemplo do autodidatismo na prática é a sua influência no avanço de novos negócios ligados à tecnologia da informação. A maior parte dos profissionais da área possuem um certificado de ensino superior, porém a formação é complementada de forma individual através de cursos de aperfeiçoamento, leitura de livros técnicos especializados, participação em workshops, convenções e os novos hackatons, maratonas de desenvolvimento de software. Devido à efemeridade das tendências no mundo da informática (novas linguagens de programação surgem e caem em desuso), é impossível aprovar uma base curricular que cubra o mínimo necessário sobre todas e que certamente mudará ao sabor do mercado. Logo, a responsabilidade de se manter atualizado com tais tendências é depositada no profissional.

Para o meu amigo e para os leitores que queiram se aventurar no empreendedorismo, em uma startup ou em um outro tipo de negócio próprio, qual deve ser a resposta? A melhor escolha é ter consciência de que a escolha do caminho deve ser sua. Apenas você é capaz de dar sentido à própria busca, seja pelo desejo de saber mais ou pelo desejo de fazer seus negócios prosperarem. O autodidatismo é um comportamento que deve acompanhá-lo sempre e é, sem dúvida, o que confere as maiores liberdades, sem formalismos. Afinal, só alguém que anda no deserto pode saber o tamanho da sua sede.