Porque a faculdade não forma empreendedores - Parte 2

Na parte 1, falamos sobre a profecia auto-realizadora da necessidade do curso universitário como fator de sucesso na vida profissional. Entretanto, não ficaram muito claros os porquês dessa profecia e nem o tamanho da destruição que essa falsa crença está causando. Posso dar meu testemunho como aluno, estagiário, freelancer e empresário (sim, já fui tudo isso).

Em vários lugares me fazem pelo menos uma dessas três perguntas:

Primeiramente, com aquela profecia vem a noção do utilitarismo do conhecimento. Ora, se precisamos do curso para trabalhar, o que aprenderei nele deve ser absolutamente imprescindível para que eu seja bom no meu trabalho. Mais uma daquelas terríveis conclusões precipitadas. Temos aí o primeiro choque de realidade que muitos alunos enfrentam já nos primeiros períodos e que faz com que a maioria deles (eu inclusive) pergunte: "Porque tenho que estudar para fazer provas sobre algo que nem sequer utilizarei na minha vida profissional?". A todos os que se fizeram essa pergunta, pasmem! Estávamos certos e errados, ao mesmo tempo.

Sim, isto é possível. Se analisarmos a situação pela ótica do texto anterior, é compreensível que tenhamos que estudar e fazer provas sobre assuntos que poderemos não utilizar na nossa vida profissional, uma vez que o objetivo é a formação de pessoas para fazer ciência pela ciência. Seria no mínimo estranho que um físico quântico, cuja ocupação é a pesquisa, não compreendesse muito bem o Modelo Padrão - nossa melhor teoria sobre do que o universo é feito. Além disso, o conhecimento não é algo descontínuo que possamos colocar em caixas. Experiências em outras áreas da nossa vida definem nossa vida profissional, e quando menos se espera, podemos encontrar soluções fantásticas a partir de conhecimentos que temos em outras áreas. Aprender não ocupa espaço.

Por outro lado, estamos certos. Se acreditarmos que a profecia é verdadeira, logo dispender recursos para aprender e aplicar provas sobre algo "inútil" é inútil. Todo o tempo e esforço gastos para atingir o objetivo foram em vão, pois o sistema em si nos distanciou da meta proposta por ele mesmo: formar profissionais qualificados para o trabalho. Esta é a sensação descrita pela maioria: alunos, estagiários, profissionais recém-formados e pelos próprios empresários.

Agora podemos ver que há algo fundamentalmente errado com a crença no diploma salvador. Estudantes desempregados que não se formam nem cientistas nem profissionais, empresários que não contratam pois não há profissionais qualificados, e empreendedores amedrontados porque não detêm nem conhecimento e nem capacidade de gerência. O ciclo se repete a cada turma que se forma, e a mesma ladainha volta a ser recitada nas salas de cursinho, nos telejornais e nas conversas de bar. Alguns poucos ousam sair da ciranda, com variados graus de sucesso.

Como, então, obter a formação, a qualificação e o conhecimento que realmente procuramos? A quem devemos recorrer? Quem poderá nos salvar?

A resposta está mais próxima de nós do que imaginamos: nós mesmos. Lembro-me de todas as vezes que ouvi alguém dizer que optou pelo curso A ou B para poder ajudar um parente ou o melhor amigo a tocar um negócio. Na maioria das vezes, o empreendedorismo é tratado de forma superficial nestes cursos, ou talvez nem tenha sido mencionado, como no meu caso. Gostaria de perguntar a elas se alguma vez compuseram um balanço, um orçamento, ou mesmo se fizeram reposição das mercadorias nas prateleiras, se chegaram a fazer uma venda direta e lidaram com o cliente cara a cara. Nessas situações, e nelas apenas, percebemos o quanto estamos preparados para conduzir e do que é que carecemos. Nenhuma disciplina irá dizer o que você precisa aprender e do que o seu negócio precisa. Logo, só há um jeito de aprender a empreender: empreendendo.

No texto anterior, mencionei algumas "escolas", algumas formas de se obter o conhecimento. Na minha concepção, a forma com que todo empreendedor mais se identifica é o auto-didatismo. Na parte 3 deste texto, discutiremos mais sobre ele.