Porque a faculdade não forma empreendedores - Parte 1
Essa semana, na saída do almoço, encontrei-me com um amigo que não vejo há alguns meses. Da última vez que nos encontramos, ele havia entregue os documentos para a desistência do mestrado, e disse que estava determinado a perseguir novas idéias para um negócio com alguns amigos. Fiquei muito empolgado e feliz pela decisão dele: a temporada no mestrado - que nem era na área na qual ele havia se formado - havia lhe deixado infeliz e desnorteado.
A conversa se estendeu por alguns minutos até que chegamos a um assunto que, na minha opinião, carece de uma análise mais aprofundada: a relação entre adquirir conhecimento e fazer um curso de graduação ou pós-graduação.
Ele havia manifestado o interesse de fazer novamente um curso de graduação, dessa vez em uma outra área, para ganhar conhecimentos que - segundo ele - são indispensáveis para aplicar no negócio que ele está planejando. Disse a ele que, neste caso, os dois interesses - abrir um negócio e cursar uma nova faculdade - eram conflitantes ainda que um pudesse contribuir para o outro no final. Mais ainda, poderia ser que este conflito interno levasse os dois a não se concretizar no médio prazo. Como era esperado, ele ficou surpreso e mais confuso, e caso este texto chegue às mãos dele, aqui estão as razões.
Acredito que exista uma diferença fundamental na abordagem de como e para quê se adquire conhecimento por parte das instituições e métodos de ensino, devido aos diferentes objetivos finais que eles têm. A abordagem e a forma de ensinar de um curso universitário é diferente daquela de um curso técnico, que é diferente de um workshop, de um auto-didata, e assim por diante, pelo simples fato de que o objetivo de uma universidade é diferente daqueles das outras "escolas". Então, qual o objetivo de uma universidade?
O termo em latim Universitas, de onde surgiu o termo universidade, é uma associação institucional de pessoas através de uma companhia, guilda, corporação de ofício ou sociedade. Havia a universita dos construtores, dos ferreiros, e também as universitas de professores e alunos, que surgiu a partir de colégios monásticos católicos, e eram dedicadas ao ensino e investigação do direito, filosofia, teologia e das artes liberais (aqui voltando à Idade Média).
Aqui já se pode notar uma diferença fundamental: esta universitas de professores e alunos, que se tornará a universidade como conhecemos, tem como objetivo principal ser um local de busca de conhecimento para nutrir a vontade humana de conhecer. Em outras palavras, o objetivo da universidade é maior do que os objetivos de um indivíduo ou da sociedade: o conhecimento gerado não necessariamente se presta a algum resultado econômico de fato. Isto é muito bom e garante que a ciência continue avançando em todas as áreas do conhecimento.
Neste momento, imagino que o leitor esteja confuso ou até desiludido. É o fato de que, na sociedade atual, aceitamos culturalmente que possuir uma graduação universitária é um pré-requisito social, uma forma de indicar que seremos bem sucedidos profissionalmente, ainda que na prática não queira indicar absolutamente nada. Essa postura nada mais é do que uma profecia que se cumpre em si mesma: quanto mais agimos e contratamos baseado no curso universitário, mais o futuro profissional de muitos parece depender dele. Isto é, parece.